Quando eu era criança costumava achar que os garotos não gostavam de mim porque eu não sabia jogar futebol, lá fui eu tentar jogar futebol (logicamente não deu certo!). No início da adolescência - aquela fase maldita de transição e puberdade - pensava que era por causa do meu corpo, que não era tão bem delineado como o das outras meninas, lá fui eu ajustar meu guarda roupas à roupas largas. Com o tempo, eu pensei ser o aparelho nos dentes, o cabelo, acreditei que algumas mudanças me tornariam "aceitável". Enfim, tirei o aparelho, pintei o cabelo, passei a me vestir como as outras meninas, tentava me comportar como elas. Era tudo o que os outros queriam que eu fosse, menos eu mesma.
Acontece que, de alguma forma, em algum momento, eu descobri que não! Eu não preciso me adequar ao que os outros acham. Descobri que meu corpo acenturado e sem curvas era o que me definia, que roupas largas e roupas justas combinavam. Descobri que eu amava preto e detestava rosa, que eu gosto mesmo é de sentar de qualquer jeito e não tenho nenhuma habilidade esportiva. Descobri que os meus gostos não são defeitos e que ser quem eu sou não é errado, errado é me proibir de ser na esperança de ser aceita.
Então, sei que se algum dia algum rapaz resolver cair na loucura de se apaixonar por mim, ele vai gostar não só da casca (que com o tempo também ficou bonita), mas vai se apaixonar principalmente pela autenticidade da alma, do riso, do jeito de andar, de falar, de pensar. Vai se apaixonar pela minha mania irritante de morder os lábios e de falar auto, vai se apaixonar pela forma como eu gesticulo e como sento largada no sofá.
Porque eu aprendi - e ainda não sei como - que quando somos nós mesmos temos maiores chances de andar com pessoas verdadeiras. Até porque, é coragem me amar e admirar quando as olheiras estão profundas e o cabelo bagunçado, quando eu choro por qualquer ou sou meio calava (na TPM, só). Mas são essas pessoas, que amam até os seus defeitos, que vão permanecer e te deixar acessar os defeitos delas.
Eu ainda quero usar roupas largas, mas porque acho bonito. Ainda quero mudar meu cabelo, mas pela metamorfose constante da alma. Ainda desejo ser aceita, mas não faço disso uma missão, faço disso uma consequência de ser simplesmente quem eu sou!
-Ana C. Schlichmann
-Ana C. Schlichmann
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